Numa situação de emergência, cada segundo conta. Mas antes de iniciar qualquer manobra de Suporte Básico de Vida (SBV), há um passo que nunca pode ser ignorado: avaliar a segurança.
O reanimador tem de garantir que o ambiente é seguro para si e para a vítima, caso contrário, em vez de ajudar pode acabar por se tornar mais uma vítima.
No Suporte Básico de Vida (SBV), a avaliação das condições de segurança é sempre o primeiro passo da cadeia de sobrevivência. Só depois de confirmar que o local é seguro é que deve iniciar as manobras.
Tipos de riscos que devem ser avaliados
De acordo com as recomendações internacionais e nacionais, os principais riscos podem ser classificados em três grandes grupos:
Riscos ambientais: choque elétrico, tráfego, incêndio, derrocadas ou explosões.
Riscos toxicológicos: exposição a gases, fumo ou produtos químicos perigosos.
Riscos infeciosos: contacto com sangue, vómito, secreções ou risco de transmissão de doenças.
Riscos ambientais
Acidente de viação
Em acidentes rodoviários, o maior perigo é o trânsito. Antes de prestar auxílio, deve sinalizar o local com os quatro piscas, vestir o colete refletor e colocar o triângulo de sinalização a uma distância adequada. Se possível, posicione o veículo de forma a proteger a vítima e desligue o motor do carro acidentado para diminuir o risco de incêndio. Só depois destas medidas básicas é que pode aproximar-se da vítima em segurança.
Eletricidade
Nos acidentes com corrente elétrica, o risco não termina no momento do choque. Uma vítima pode continuar ligada à fonte elétrica e transmitir energia a quem lhe tocar. Nunca se deve aproximar até confirmar que a corrente foi desligada no disjuntor ou na ficha do equipamento. Caso não seja possível, deve afastar cabos utilizando apenas objetos não condutores, como madeira ou plástico. Só após garantir a interrupção da energia é que pode avaliar a vítima e iniciar o SBV.
Incêndio ou fumo
A presença de fogo ou de fumo intenso obriga a medidas rápidas. A vítima deve ser retirada, sempre que possível, para uma área ventilada e segura, longe da fonte de perigo. Iniciar manobras de reanimação num espaço com risco de intoxicação ou queimaduras compromete tanto o reanimador como a vítima. A prioridade é sempre eliminar o risco imediato antes de iniciar o SBV.
Riscos toxicológicos
Produtos tóxicos e químicos
Situações que envolvem produtos químicos ou tóxicos podem apresentar riscos acrescidos. Sempre que possível, deve identificar-se o produto em causa e comunicar essa informação ao 112, permitindo que o CODU ou o CIAV orientem os procedimentos adequados.
Se a intoxicação for por gases, deve arejar o local ou retirar a vítima para um espaço ventilado. No caso de produtos líquidos corrosivos ou pesticidas, é essencial utilizar luvas e máscara para evitar contacto com a pele e mucosas. Nunca se deve iniciar SBV em ambiente fechado saturado com vapores tóxicos, pois a prioridade é preservar a vida do reanimador.
Riscos infeciosos
Transmissão de doenças
Apesar de menos imediatos, os riscos de infeção estão presentes. Existem relatos de transmissão de doenças como tuberculose ou hepatite em contextos de reanimação. O contacto com sangue, vómito ou secreções aumenta o perigo.
Para reduzir o risco, deve ser privilegiado o uso de luvas descartáveis e, sempre que possível, de máscara de bolso ou insuflador manual. Caso não exista equipamento de barreira, recomenda-se focar-se nas compressões torácicas até à chegada de ajuda, evitando a insuflação boca-a-boca quando há fluidos biológicos presentes.
Aproximação e autoproteção
Depois de afastados os riscos, o reanimador deve aproximar-se da vítima com segurança. É importante colocá-la numa superfície firme, seca e plana, criando espaço em redor para trabalhar. Se estiver inconsciente, mas a respirar, deve ser colocada em posição lateral de segurança, garantindo a permeabilidade das vias aéreas.
A autoproteção deve manter-se ao longo de todo o processo, evitando contacto desnecessário com fluidos biológicos e procedendo à higienização adequada das mãos após a intervenção.
Pedir ajuda
Enquanto avalia o local e cria condições para intervir, é essencial não esquecer o pedido de ajuda. O contacto com o 112 deve ser feito o mais cedo possível, transmitindo não só a localização e o estado da vítima, mas também os riscos identificados no local. Esta informação permite que as equipas de emergência cheguem preparadas e com os meios adequados.
Relacionado: Como funciona a chamada 112
Conclusão
Prestar ajuda é um ato de solidariedade, mas só é eficaz se for feito em segurança. Antes de iniciar o SBV, o reanimador deve identificar riscos ambientais, toxicológicos e infeciosos, agir para os neutralizar e proteger-se. Só depois de garantidas estas condições se deve avançar para as manobras.
A segurança é sempre o primeiro elo da cadeia de sobrevivência, assegurando que a resposta salva vidas sem comprometer quem socorre.
Para conhecer todos os passos da resposta em emergência, veja também o artigo Cadeia de Sobrevivência.
Perguntas frequentes sobre as condições de segurança no SBV
Referências
Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Manual de Suporte Básico de Vida – Desfibrilhação Automática Externa.
European Resuscitation Council (ERC). Guidelines for Resuscitation 2021.
American Heart Association (AHA). CPR and Emergency Cardiovascular Care Guidelines.
Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Reanimação e Emergência.





